ROBSON GISOLDI
A crise dos Estados Unidos, agravada pela rejeição da Câmara dos Deputados americana do pacote de US$ 700 bilhões proposto pelo governo, contribuirá para que o problema se alastre pelo mundo e afete o Brasil. A avaliação é de especialistas que apontam a balança comercial, o crédito, o crescimento e o mercado de trabalho como alguns setores que podem sofrer com a crise.
De acordo com o economista e diretor da consultoria Planning e da Plurimax Asset Management, Cláudio Gonçalves, a situação está se agravando, pois além de contaminar o sistema financeiro americano, o impacto já chegou à Europa. "Está caminhando para uma crise sistêmica. Mostra que ela está se alastrando para outras economias. Mas o fato do congresso não ter aprovado o acordo, não significa dizer que eles não vão fazer alguma coisa. O problema é o momento de sucessão eleitoral", informa. Gonçalves disse que independentemente do pacote, o Brasil será afetado de alguma forma. Em primeiro lugar, diz, a balança comercial terá problemas sérios porque o mundo vai crescer menos no ano que vem. Logo em seguida, os recursos financeiros que estavam vindo para o Brasil, na forma de investimentos, podem arrefecer.
Segundo o analista, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve ficar em 2009 com algo entorno de 3%. "Eu acho que teremos esse ano um natal com frango, não com peru. Esse cenário no mercado financeiro cedo ou tarde afeta a economia real", disse ressaltando que com a economia crescendo menos, o mercado de trabalho sentirá o aumento do desemprego.
Pelo ponto de vista de Henrique Campos, diretor de auditoria da BDO Trevisan, o natal está muito perto e os efeitos da crise serão sentidos no próximo ano. "Quando dizem que o Brasil não terá crise, digo que é difícil porque somos um player internacional. Vai demorar, mas vamos capturar esses efeitos em 2009, com a diminuição do crédito e pedidos nas exportações", informa. Campos acrescenta que o desemprego será um impacto agressivo na sociedade. "Até mesmo as obras do Programa de Aceleração do Crescimento [PAC] podem sofrer atrasos pois precisam de captação de recursos externos", disse.
Segundo o especialista, a curto prazo o País tem um antídoto: o mercado interno aquecido. "Acredito que cresceremos algo em torno de 4% em 2009, mas como o mercado estava muito aquecido poderemos sentir bastante. É como um carro a 100 quilômetros por hora precisar reduzir para 20 quilômetros", conclui.
Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo é inevitável que o Brasil seja atingido , como já está ocorrendo, especialmente pela redução das linhas de comércio exterior, como as Antecipações de Contratos de Câmbio (ACCs). "As autoridades do governo devem observar os desdobramentos da crise e agir."